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Docência superior: Práticas, estratégias e dinâmicas de inclusão que visam levar o aprendizado a todos

Docência superior: Práticas, estratégias e dinâmicas de inclusão que visam levar o aprendizado a todos

No dia 23 de novembro de 2023, durante a entrevista do II Ciclo do seminário “Conversas com quem gosta de ensinar”, contamos com a partilha da professora Gabriela Gallucci Toloi. Graduada em Educação Física (UNESP) e especialista em Atividade Física e Adaptação (UNICAMP), a docente possui mestrado em Ciências da Educação (master degree – State University of New York, validado pela UFPR) e doutorado em Educação, na área de Educação Especial (UNESP). Ainda, a professora coordena o curso de Educação Física – licenciatura e bacharelado – da FAI, instituição da qual é docente titular de Educação Física Adaptada.

A entrevistada começa sua reflexão sobre a educação inclusiva dizendo: “Quando eu trabalho com alguém com deficiência, eu não enxergo a deficiência dele, eu enxergo a Eficiência […] e a atividade física, o esporte, promove isso, essa perspectiva de você olhar para alguém que tem algum tipo de comprometimento, pode ser motor, sensorial, intelectual, e ele constrói algo a partir daquilo”. 

Gabriela comenta que os caminhos para a inclusão podem ser simples, como uma pequena autodescrição para situar a pessoa sobre o que está acontecendo no ambiente, mas é algo visto como desnecessário se não pensarmos na realidade da pessoa com deficiência. Se permitir aprender essas iniciativas e introduzi-las na própria rotina é um grande passo.

A professora diz que, na docência de nível superior, o professor pode ser artista em sala de aula. Isso permite que o ato de ministrar aulas assuma uma posição de diversão, que corresponda ao interesse do aluno na aula.

Recentemente, com a situação adversa que a pandemia de Covid-19 trouxe para o contexto da educação, a estratégia da docente foi promover aulas com temáticas diversas, como bailes de luxo, nos quais os os alunos deveriam estar – virtualmente – a caráter: maquiagem, roupa social etc.

Outra estratégia utilizada por Gabriela nas disciplinas referentes a inclusão, mesmo após o retorno às aulas presenciais, são os curtas-metragens sobre inclusão, pois é algo que sensibiliza os estudantes, faz com que entendam a realidade da PcD e “os infiltra nesse movimento”.

Em sua fala, a professora ainda promove uma reflexão sobre o papel do Portal Observa na difusão de práticas docentes do ensino superior e no sentimento de comunidade: “Os professores têm tantas estratégias em sala de aula, e nós não compartilhamos. Então eu gostaria de estar sentada ouvindo alguém estar falando dessa mesma maneira, porque a gente pega as ideias, e a ciência precisa ser compartilhada, não pode ser guardada”.

Em mais uma de suas dinâmicas com as turmas, Gabriela compartilha a tarefa de júri simulado, na qual os estudantes são divididos em dois grupos: uma parte deve defender a inclusão e a outra deve contestar sua adoção. Em cada aula, é utilizada uma estratégia diferenciada, um exemplo seria o seguinte cenário fictício: em uma turma do 3º ano do ensino fundamental um aluno autista rasga o caderno da colega que acabara de finalizar a tarefa, joga-o no lixo e diz que não se importa.

São muitos contrastes vistos nos debates: Deve haver diálogo? Paciência? É um absurdo? Deve-se ligar para os pais?  Tudo vale uma reflexão e uma ação proativa sobre o ocorrido.

A docente enfatiza que “a inclusão pode não ser presente na sua totalidade, dependendo do contexto e da adaptação presente nos ambientes, mas isso não significa que uma pessoa com deficiência não possa estar na escola. É preciso buscar a inclusão com o auxílio de especialistas dentro da escola; o que não pode é afirmar que o processo de inclusão de uma pessoa com deficiência prejudica outros alunos”.

Gabriela propõe um questionamento intrigante: mesmo em caso de inclusão bem-sucedida na escola, como garantir que PcDs estejam realmente aprendendo? Há algumas ferramentas de aprendizagem úteis, como o DUA (Desenho Universal da Aprendizagem).

Porém, para a efetividade do ensino, a docente diz que “o currículo não pode ser engessado. Ele precisa ser flexível, e ele tem que ser flexível de acordo com a necessidade educacional desse aluno”. Para isso, há o Plano Educacional Individualizado (PEI), que envolve todos os profissionais que possam auxiliar no desenvolvimento da pessoa com dEficiência em toda a sua caminhada (educador físico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional etc.), desde a educação infantil até o ensino superior, contendo estratégias específicas e adequadas de cada área.

Em sala de aula, isso pode ser aplicado partindo de uma prova personalizada até a adaptação para uma voz mais calma. O mais importante é o exercício da empatia, se colocar no lugar da realidade da pessoa com deficiência, dando exemplo a mais uma delas: cada aluno precisa colocar um elástico na mão contrária à que usa para escrever e precisa redigir um texto de acordo com um ditado rápido; jogo da forca com letras aleatoriamente posicionadas a fim de formar uma palavra, expondo a compreensão que uma criança com deficiência intelectual pode ter e a necessidade de adaptar a forma com que a informação é transmitida; nadar sem o apoio da visão; golbol (desporto coletivo com bola para deficientes visuais).

Um dos trabalhos que os alunos de Gabriela devem fazer consiste na realização de uma entrevista, com professores de diferentes áreas, a fim de investigar quais dificuldades cada docente possui ao incluir alunos com deficiência (em suas aulas e atividades). A partir das respostas obtidas, é feito um momento de partilha de resultados e debate e, por fim, a turma deve sugerir meios para superar as dificuldades encontradas. Todavia, para achar as soluções certas, é necessário estar bem alinhado com os problemas, assim se pode ser assertivo sobre o que precisa ser adaptado e melhorado.

Quando se trata de inclusão, a maioria das pessoas tem em mente situações pontuais que requerem inclusão, como quando há uma Pessoa com Deficiência (PcD) em um ambiente de Educação Física. No entanto, Gabriela esclarece que é necessário criar uma cultura de inclusão… Mas o que isso significa? Em suma, a iniciativa de inclusão deve ser tomada independentemente do ambiente e mesmo se não houver certeza da presença de pessoas com deficiência nele. Por exemplo: se uma equipe está em reunião, é necessário que se apresentem utilizando audiodescrição, mesmo que não haja nenhuma pessoa cega, pois é dessa forma que podemos normalizar a inclusão, fazendo com que ela deixe de ser um evento isolado para se tornar o padrão. A professora também menciona a importância da presença de um intérprete de Libras em eventos, entrevistas e reuniões.

Além disso, para dar voz às PcDs, é necessário não se apropriar de seus lugares e espaços. Como exemplo, menciona as vagas de estacionamento exclusivas para pessoas com deficiência, que são constantemente utilizadas indevidamente por outras pessoas, e como tais atitudes refletem nessa causa.

Assista à entrevista com

Profa. Dra. Gabriela Gallucci Toloi

Vídeo dos conceitos

Autoria

Anna Beatris Pereira, Éden Clementino e Gabriela Gallucci Toloi

Curadoria

Caroline Carmona Marques Gonçalves (revisado por Ana Gabryele Braga de Souza)

Entrevista

Cléber Lopes

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