No dia 9 de maio de 2024, o III Ciclo de “Conversas com quem gosta de ensinar” contou com a presença de Raphael de França e Silva, professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), desde 2023, no curso de Licenciatura em Computação do Campus Mata Norte. Doutor em Educação Matemática e Tecnológica (EDUMATEC/UFPE) desde 2022, tendo obtido o título de mestre pelo mesmo programa em 2019. Possui Licenciatura em História (2013) e Especialização em Educação em Direitos Humanos (2015), ambas pela UFPE. É Coordenador de Mídias Pedagógicas na PROEC/UPE. Também é Coordenador do Programa de Extensão Universitária Mídias Pedagógicas, financiado pelo PFA/UPE. Faz parte do grupo de pesquisa Mídias Digitais e Mediações Interculturais da UFPE, e, coordena o Lócus de Inovação em Territórios Vulneráveis, financiado pela FACEPE. Atua principalmente nos seguintes temas: Tecnologias na Educação; ensino híbrido; Metodologias Ativas na educação; Avaliação de aprendizagem com tecnologias digitais; Educação a Distância; educação tecnológica; educomunicação; Política Educacional; Metodologia científica e Extensão Universitária.
Letramento Digital
A inclusão digital da população idosa é um desafio crescente no Brasil, especialmente diante do aumento dessa faixa etária na sociedade e das desigualdades sociais que afetam o acesso às tecnologias. Reconhecendo essa necessidade, o professor Raphael liderou um projeto de extensão universitária voltado para o letramento digital de idosos. O projeto contou com uma equipe interdisciplinar composta por estudantes de diversos cursos, como enfermagem, engenharia civil e ciências sociais. Em sua fase inicial, realizada em Recife, a iniciativa ofereceu um curso de 20 horas, dividido em encontros de duas horas, com aulas práticas que abordavam o uso de celulares, aplicativos governamentais, identificação de notícias falsas e prevenção contra golpes digitais.
A parceria com um centro comunitário foi essencial para divulgar e matricular os participantes, garantindo a formação de duas turmas, compondo um total de 25 idosos. Segundo o professor Raphael, a tecnologia digital atua como uma ponte entre o indivíduo e o conhecimento disponível na sociedade, ampliando possibilidades e minimizando limitações impostas pelo isolamento digital.
Inclusão Digital
Para o docente, a formação de indivíduos capazes de identificar e evitar desinformação reflete diretamente no fortalecimento do sistema democrático. Durante o curso de letramento digital oferecido a idosos, foi possível observar como os participantes não apenas desenvolveram habilidades práticas, mas também refletiram sobre o impacto das fake news. Essa conscientização tem um valor coletivo, já que a desinformação afeta toda a sociedade.
O impacto da inclusão digital é percebido tanto no âmbito individual quanto no coletivo. Para idosos, pequenas conquistas, como aprender a pedir um transporte por aplicativo ou acessar extratos do INSS, representam grandes avanços em autonomia e qualidade de vida. Esses aprendizados não só facilitam o dia a dia, mas também reintegram os participantes a uma cidadania digital cada vez mais exigida no Brasil, onde serviços essenciais estão cada vez mais digitalizados.
Círculo de cultura
Durante o curso de letramento digital coordenado pelo professor Raphael, uma das atividades mais marcantes foi a introdução de compras online como parte da aprendizagem prática. Inicialmente, as participantes demonstravam receio de explorar o comércio eletrônico, limitando-se a compras em lojas físicas, onde muitas vezes os preços são mais altos. A partir das aulas, foram ensinadas estratégias para realizar compras seguras, como dar preferência a lojas conhecidas e utilizar aplicativos oficiais.
Esse processo culminou em histórias inspiradoras, como a de uma idosa que comprou, com confiança e autonomia, um par de sapatos por um preço acessível durante uma aula prática, celebrando sua conquista no dia da entrega dos certificados ao usá-lo como símbolo de sua nova habilidade. Esse exemplo evidencia o impacto profundo da inclusão na cultura digital. Mais do que acessar ferramentas, os idosos passaram a se sentir parte ativa de um universo tecnológico antes inacessível, demonstrando que a cultura digital pode ser uma ponte poderosa para inclusão e autonomia.
Exclusão Digital
Durante o projeto, destacou-se a importância de abordar a relação entre tecnologia e cidadania. A falta de domínio das ferramentas digitais pode negar aos cidadãos o acesso a direitos fundamentais, especialmente em contextos em que serviços públicos, como agendamento de vacinas ou perícias, são disponibilizados apenas por meio de aplicativos. Nesse sentido, a formação digital oferecida não apenas capacitou os participantes a utilizar as tecnologias, mas também fomentou uma reflexão crítica sobre como se posicionar em um cenário cada vez mais digitalizado.
Além disso, o projeto abordou questões que ampliam a compreensão da exclusão social, como a solidão na terceira idade e as múltiplas identidades digitais que os participantes podem assumir em diferentes plataformas. Ao ensinar, por exemplo, o uso de redes sociais, aplicativos de mensagens ou até mesmo plataformas de relacionamento, foi possível trazer à tona debates sobre identidade, convivência e os desafios da inclusão social no espaço digital. O professor Raphael destacou que pensar a inclusão digital é também pensar a inclusão social, reconhecendo que, antes de conectar as cidades, é essencial conectar as pessoas, garantindo que todos possam transitar com autonomia e pertencimento na cultura digital contemporânea.
Desenvolvimento crítico
O projeto evidenciou a importância do letramento digital não apenas para a inserção tecnológica, mas também para a autonomia crítica desse público, além de evidenciar como a exclusão digital cria vulnerabilidades significativas, restringindo o acesso à informação, ao conhecimento e às oportunidades de conexão social. Assim, o curso revelou um impacto positivo na vida dos participantes, que passaram a acessar novos universos, desenvolveram o senso crítico e estabeleceram conexões.
Extensão Universitária
Como destacado pelo professor Raphael, o objetivo maior de um projeto de extensão universitária vai além da intervenção social: trata-se de formar profissionais mais conscientes, empáticos e preparados para lidar com os desafios do mundo real. O projeto de inclusão digital, ao unir estudantes de diferentes áreas como enfermagem, engenharia civil e licenciaturas, demonstrou a capacidade da extensão de conectar saberes diversos para atender às necessidades concretas da comunidade.
No caso das estudantes de enfermagem, por exemplo, o projeto proporcionou o desenvolvimento de habilidades fundamentais como a escuta ativa, essencial tanto na prática clínica quanto no diálogo com os idosos participantes. Já para os estudantes de licenciatura, a experiência foi uma oportunidade de aplicar e aprimorar competências pedagógicas, como o planejamento e a adaptação de aulas em função das demandas dos aprendizes. Essa articulação entre teoria e prática é um dos pilares da extensão, que permite aos estudantes vivenciar situações que os aproximam das realidades que irão enfrentar enquanto profissionais.
SAIBA MAIS
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