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O Professor contemporâneo: entre a tradição e a urgência

O Professor contemporâneo: entre a tradição e a urgência

No dia 26 de Outubro de 2023 o Portal Observa contou com a participação do Prof. Dr. Márcio Roberto Prado no II Seminário Avançado “Conversas com quem gosta de ensinar”. O docente possui graduação em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e realizou o seu doutorado em Estudos Literários. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em estudos sobre a comunicação, a arte e a cultura contemporâneas em suas relações com mídias e tecnologias, enfocando sobretudo questões de poética.  É Professor Associado do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias da Universidade Estadual de Maringá – UEM.

A temática que permeou a conversa foi o “Professor contemporâneo: tradição x urgência”. Essa temática está alinhada com a prática do professor na ministração de aulas de literatura da universidade em que atua. Por meio de filmes, séries, jogos de videogame, o professor busca dialogar com os seus discentes no contexto em que eles interagem para tentar fazer uma ponte entre a teoria literária e os clássicos, em uma área como a literatura, que remonta aos princípios de tradição de séculos atrás. Nesse sentido, como articular o professor contemporâneo, entre a tradição e a urgência?

Atualmente, há múltiplas inovações no ensino superior, seja no campo das metodologias ativas ou na criação de currículos inovadores. Por conta disso, o professor faz uma breve consideração sobre o que deve ser considerado uma prática inovadora. Geralmente, relacionamos inovação à tecnologia ou ao avanço tecnológico, o que pode ser visto como um certo reducionismo. Parafraseando a fala do professor: “a maior parte dessas inovações não acontece nos gadgets e aparelhos, mas sim na mente das pessoas, relacionadas a esse momento de transformação” (citação do pensador Henry Jenkins sobre essa questão tecnológica).

Em seguida, cita um exemplo interessante de como trabalhou junto na UEM com uma professora do PDE, na proposta de produção de material para intervenção em sala de aula com um clássico da literatura, “Clarissa” de Erico Verissimo, estabelecendo um diálogo com uma personagem adolescente em ascensão em um filme da época, que era o ano de 2010, Bella Swan da saga Crepúsculo. A ideia era trabalhar a figura da adolescência e estabelecer um diálogo entre a personagem da obra clássica e a personagem do meio fílmico. Após essa experiência, a professora ingressou no mestrado como orientanda do professor e desenvolveu o trabalho teórico dessa proposta em sua dissertação.

A gamificação é conhecida como aplicação de princípios de jogos (digitais ou analógicos) em contextos “não jogo”, enfocando-se engajamento de sujeitos em tarefas ou em resolução de problemas (Alexandre, G. G. 2021). Nos dias atuais, o uso de jogos digitais como ferramenta pedagógica é considerado um recurso metodológico inovador, contudo algumas pessoas ainda olham com certo estigma a aplicação de jogos em sala.

Por conta disso, o professor Márcio discorreu sobre sua experiência quando começou a levar seu computador com jogos para a sala de aula, de forma que fosse possível jogar com os alunos. Disse que isso permitia que eles entendessem questões externas aos jogos sincronicamente ou eventualmente, mas que permitia que fossem levadas experiências daquele momento. Posteriormente contou sobre o momento em que dois colegas presenciaram sua interação em sala e soltaram o comentário “é por isso que a universidade tá desse jeito”. Com isso, o professor afirma que aprendeu a compreender que algumas mudanças podem ser radicais para algumas pessoas, isso levanta a urgência de se promover uma postura mais aberta.

A inclusão no ensino em geral, mas principalmente no ensino superior, só será uma exteriorização do princípio alteridade quando permitir a possibilidade de constituir experiências formativas no encontro com os diferentes.

Congruente a isso, o docente comenta que se colocar no lugar do outro, ou seja, exercitar alteridade na docência, é difícil, pois todas as pessoas são diferentes. Os seres se comunicam de um jeito individual, possuem suas próprias referências e um olhar singular. Contudo, o mestre afirma que exercitar a alteridade na docência é algo compensador, que proporciona uma experiência fantástica para aqueles que decidem se lançar nessa aventura que é se colocar no lugar do outro.

Ao iniciar uma investigação, todo pesquisador parte de uma certa orientação cognitiva, que foi desencadeada por sua visão de mundo. Contudo, segundo o professor Márcio, é importante que o pesquisador não se feche para as transformações do mundo que é constante para modificações que se impõem. Além disso, afirma que é necessário que os pesquisadores possuam um olhar e uma postura isenta de preconceito, e de qualquer forma de pré-julgamento.

O docente também expõe que a comunicação às vezes ocorre por meio de coisas que sofrem um estigma, como o vídeo game. Contudo, os jogos digitais são uma das tendências no momento contemporâneo, além de serem absolutamente relevante do ponto de vista cultural e comunicacional. Com isso, Márcio afirma que ao pensar em literatura na atualidade, significa colocá-la em contato, em diálogo e às vezes em zonas de intersecção com outras linguagens como a linguagem musical, visual e assim por diante. Além disso, o mestre comentou que suas orientações e pesquisas sempre se enveredam por esse caminho, proporcionando grandes possibilidades de inovações mesmo no âmbito da educação.

SAIBA MAIS

“Inovar na universidade: uma alternativa real ou mais do mesmo?” https://www.scielo.br/j/pee/a/MHbmQhSKvDWxhXNVwS6NPYP/?lang=es.

“Formação de professores na cultura digital por meio da gamificação”. https://www.scielo.br/j/er/a/bg7mqHXSF673hLBB8fVxXjq/?lang=pt

“Ética, justiça e educação sob o enfoque da alteridade”.  https://www.scielo.br/j/cp/a/pFY7x5nzSb95DNt737md8sF/?format=pdf&lang=pt

“Linguagem, língua e escrita musical: sobre a pertinência de uma semiótica não verbal”.  https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2021.186358

Assista à entrevista com

Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado

Vídeo dos conceitos

Autoria

Ana Gabryele Braga, Inglyde Jeane e Márcio Roberto do Prado

Curadoria

Caroline Carmona Marques Gonçalves (revisado por Ana Gabryele Braga de Souza)

Entrevista

Cléber Lopes

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