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Paralelos entre o brincar popular e o ensino de física e matemática 

Paralelos entre o brincar popular e o ensino de física e matemática 

A professora Liza Macedo Lopes desenvolve uma prática rica em afetividade e repleta de manifestações culturais. Saiba mais! 

Liza Macedo Lopes é mestra em Engenharia Elétrica e Informática Industrial pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, trabalha como professora-tutora dos cursos de licenciatura em Física e Matemática na PUC online e também na rede pública, nos Ensinos Médio e Técnico. 

A docente comenta que a relação entre a arte em geral e as ciências exatas, ao seu ver, é gritante. A interdisciplinaridade presente em sua proposta metodológica surgiu de uma necessidade individual: desenvolver uma prática inovadora e ao mesmo tempo prazerosa para si.  

Na prática em sala de aula, é comum que as vivências do professor estejam refletidas na forma como ele planeja os conteúdos. Envolvida desde a infância com o balé clássico e contemporâneo e por meio de uma disciplina que cursou na adolescência, “Análise do Movimento”, Liza observou que a Física estava presente também nas performances artísticas, fator que influenciou sua atuação profissional. 

A professora afirma que para ser inovador é preciso ousadia. Ela conta que pensa sua prática de maneira similar à construção do método científico: lançar questionamentos para conhecer os saberes prévios dos estudantes, propor discussões, provocar a reflexão e criar atividades práticas, como as que remetem às brincadeiras populares. Somado a isso, é fundamental a discussão de aspectos sociais e históricos para que também sejam incorporadas manifestações das tantas culturas presentes no povo brasileiro, como a ancestralidade africana e indígena. 

Com sua experiência prática, Liza percebeu que a grande maioria dos estudantes desconhece as culturas populares e suas diferentes manifestações, caracterizando uma carência por parte do sistema educacional. Mesmo que esses preceitos estejam presentes na BNCC (2018), a docente relata que na prática isso não acontece. 

A professora preza pela escuta ativa, em que o estudante seja ouvido e também participe da construção do próprio conhecimento. Esse princípio aplicado na escola fortalece tanto a formação psicológica individual quanto as relações interpessoais estabelecidas, contribuindo para um relacionamento saudável e empático com o outro. 

Além disso, Liza diz que busca estabelecer parcerias com professores de outras disciplinas, como Educação Física e Artes, pois eles dispõem de ambientes diferentes da tradicional formação das carteiras em sala de aula, geralmente enfileiradas.  

Por meio de atividades como dinâmicas em roda, a docente consegue trabalhar a percepção das grandezas físicas, por meio de desenhos no solo, ensina aos estudantes o que é a trajetória curvilínea e os sentidos horário e anti-horário, por exemplo. A prática permite também que os alunos percebam o próprio corpo, junto de aspectos como a velocidade e o deslocamento, relacionados ao ritmo e a sonoridade.  

Tudo isso contribui para a criação de laços afetivos entre o professor e o estudante, e a afetividade promove uma educação humanizada. Ao falar de direitos humanos, é sabido que a união por meio do afeto é um dos símbolos de resistência entre pessoas subjugadas e/ou caracterizadas como minorias dentro de sociedades desiguais; dessa forma, é de suma importância que o educador estabeleça uma relação de afeto e de confiança com os estudantes e incentive tais relações entre eles. 

A docente afirma que resistências sempre vão existir, mas é fundamental que haja comunicação com a equipe pedagógica, com a coordenação e com os estudantes.  

Uma das principais características presentes na prática da docente Liza é a conversa com os alunos sobre a importância de se respeitar a diversidade e as culturas, sempre mantendo o diálogo aberto e a participação livre do estudante naquilo que ele estiver mais confortável. 

Dentro do processo de planejamento e do mapeamento da turma, a professora diz que é possível prever as resistências que podem surgir e lidar com elas de forma maleável. Para isso, faz-se necessário criar planos de ação, adaptar o conteúdo e mobilizar conhecimentos prévios. 

A docente expõe que a música pode atuar como uma terapia, em aspectos psíquicos dos estudantes. Sobre isso, a neurociência explica que ela é responsável por estimular quatro neurotransmissores (dopamina, endorfina, ocitocina e serotonina), os quais provocam as sensações de satisfação, felicidade, relaxamento e bem-estar. Ademais, a música também equilibra a respiração e os batimentos cardíacos, atuando nos níveis de estresse. 

A docente afirma que sua prática na disciplina de Física fez com que estudantes atípicos, como um autista e outro com características de apatia, participassem ativamente das atividades propostas, estabelecendo uma nova relação desses estudantes com a matéria. 

Isso mostra a necessidade de personalização do relacionamento em sala de aula entre educador e educando, cuja aproximação com as vivências do estudante funciona como um pré-requisito para o planejamento personalizado que se queira aplicar.  

A continuidade de ações como essa é prejudicada se não há incentivo e apoio de força maior. Como explicitado pela docente na sua fala baseada em Paulo Freire, se profissionais inovadores não são valorizados, como eles conseguirão agir sobre a realidade, encantando, transformando e inspirando os cidadãos, de forma a motivar que nossa cultura permaneça e nossa sociedade evolua? 

Liza afirma que, mesmo nas ciências tidas como “exatas”, nada na vida é exato e perfeito, e dentro da academia tendemos a acreditar que existem padrões certos que devem ser seguidos para alcançar determinados resultados. O exercício que fica é o de quebra de paradigmas, entendendo que fazem parte do processo tanto o certo quanto o errado; o que vale é a construção permeada pela tentativa de inovar e de arriscar.  

Deve-se deixar de lado o medo e investir no diálogo com o educando, para que ele entenda que também faz parte do planejamento – que precisa ser flexível – e, de certa forma, de pesquisa. Nessa relação estabelecida é que o docente encontrará a motivação para continuar. 

A docente finaliza falando sobre a importância de errar, em que os erros são fundamentais para aprendizado e para ajudar outros profissionais que queiram incorporar práticas diferenciadas. Ademais, na prática docente, que envolve a formação do ser, a rigidez do conteudismo não é o melhor caminho; flexibilizar com consciência e trabalhar aspectos socioemocionais, étnico-raciais, interpessoais e ambientais se mostram como uma alternativa mais rica. 

SAIBA MAIS

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard.; DOLZ, Joaquim (org.).  Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. 

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 2019. 

 Música: impactos no cérebro. PUCRS Online, 2021. Disponível em: https://online.pucrs.br/blog/public/musica-impactos-no-cerebro-perspectiva-neurociencia-e-psicologia#:~:text=Al%C3%A9m%20disso%2C%20as%20m%C3%BAsicas%20estimulam,realizar%20essa%20e%20outras%20atividades. Acesso em: 16 ago. 2023. 

“A pedagogia por alternância como modelo para inovações para o ensino de Matemática”, disponível em:  http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_unioeste_mat_artigo_rosebeli_de_miranda_araujo_e_silva.pdf 

Círculos de Cultura: problematização da realidade e protagonismo popular. Disponível em: edpopsus.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/texto-2-4-cc3adrculos-de-cultura.pdf 

Assista à entrevista com

Liza Lopes

Vídeo dos conceitos

Depoimento do estudante

 “A prática desenvolvida pela professora foi uma das melhores aulas que já experimentei, eu amo a dança e sempre vi ela como uma extensão, a dança carrega consigo cultura e socialização. Foi uma experiência nova para mim, um ritmo que eu não conhecia, mas que naquele momento carregava tanta cultura consigo que conectou todos a volta, aquela sensação de alergia foi automática. Eu me formei, mas sou 100% a favor dessas práticas desenvolvidas porque além de gerarem conhecimento, trazem notoriedade para o que está sendo desenvolvido, socialização, aprendizado e alegria (foge daquele modelo de ensino quadro e giz). Espero com confiança que essa prática ainda esteja sendo aplicada, pois ela é muito mais que uma simples oficina de dança, ela carregava com si cultura e isso a tornou tão importante.”

– Yuri Gustavo Maciel Dos Santos 

Autoria

Anna Beatris

Curadoria

Maria Fernanda Schneider e Caroline Carmona

Entrevista

Maria Fernanda Schneider

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