A interdisciplinaridade está prevista nos documentos institucionais, mas nem sempre é colocada em prática. A professora Patrícia Meyer sempre teve o desejo de mudar isso. Com a pandemia e o modelo de aulas remotas, surgiu a oportunidade. Além disso, foi necessário um olhar mais cuidadoso para a realidade.
Quando as atividades educacionais foram retomadas, após uma abrupta pausa ocasionada pelo início da pandemia, os professores precisaram prosseguir as aulas de uma nova forma, e levaram em consideração a mudança do ambiente presencial para o online. Foi necessário, além disso, que eles repensassem suas práticas, com o objetivo de evitar sobrecarregar os estudantes, passando a respeitar o momento vivido e a pensar em uma forma mais dinâmica de apresentar o conteúdo.
Interdisciplinaridade na prática
A professora Patrícia Meyer, que leciona na disciplina de Comunicação Empresarial, no curso de Processos Gerenciais, e a professora Érika Pessanha D’ Oliveira se propuseram a integrar suas disciplinas: Comunicação Empresarial e Comportamento Organizacional, no curso de Processos Gerenciais. O objetivo dessa proposta foi aliar os conteúdos de forma interdisciplinar, já que eles eram complementares. Dessa maneira, ainda foi possível tornar as disciplinas mais leve para os estudantes. Faz-se necessário mencionar que a proposta estava amparada pelos documentos institucionais.
Como a integração de duas disciplinas foi feita?
Foram necessários um replanejamento e uma reconstrução do plano de ensino, de forma que fossem levados em consideração o momento pandêmico e o trabalho interdisciplinar a ser realizado. Houve, também, um trabalho colaborativo de forma ativa por parte das duas professoras.
Primeiro, as professoras buscaram os documentos institucionais, porque precisavam fazer algo que estivesse amparado pela instituição de ensino, em seguida, realizaram uma curadoria dos temas relevantes para cada disciplina e, então, buscaram associações entre eles para resultar em grandes temas, que tinham possibilidade de trabalho pelo olhar dos dois componentes.
Leitura da realidade: uma formação profissional crítica
Diante do cenário pandêmico, foi necessário refletir sobre como formar um bom profissional e pensar tanto na saúde mental dos estudantes, quanto em uma forma de fortalecer a importância da ciência e da criticidade. O conteúdo ministrado nas disciplinas era voltado à aplicação de conceitos que faziam parte da realidade do estudante, com discussão de temas importantes e presentes na sociedade. Além disso, promovia debates sobre problemas a serem enfrentados durante a vida profissional em qualquer âmbito: político, científico, econômico etc. Os grandes temas englobavam saúde mental e trabalho, mundo do trabalho, raça e gênero, estilos de liderança, liderança feminina, entre outros.
Para debater sobre esses assuntos, as professoras decidiram convidar para as aulas alguns profissionais considerados referências nos temas e que podiam trazer contribuições pertinentes, com o objetivo de “levar o mundo do trabalho para dentro de sala de aula”, como explicou Patrícia Meyer. Mas vale ressaltar que antes das falas dos convidados, eram feitas provocações teóricas, para que houvesse sempre um diálogo, não uma palestra.
O conteúdo era ancorado com perguntas sobre os conceitos utilizados e as professoras calculavam quantos encontros síncronos eram necessários para cada tema, de acordo com sua pertinência para a atualidade. Para a professora Patrícia, inovação é não focar no conteúdo, e, sim, no impacto do tema na sociedade. Algo que não deveria ser uma inovação, segundo Meyer, mas ainda é.
Dificuldades enfrentadas
Apesar de haver um amparo institucional para a realização das atividades, ainda assim, alguns aspectos técnicos não foram solucionados, pois, no sistema, ainda constavam duas disciplinas. O tempo de trabalho não seguiria exatamente o que estava na carga horária, mas seria ampliado. Foi necessário repensar o tempo, a forma de trabalhar com o sistema e as avaliações.
Para superar este impasse, as docentes se comprometeram a apresentar os resultados do trabalho e construíram um planejamento robusto, que foi produzido com cuidado.
Uma outra dificuldade enfrentada ocorreu devido à mudança do presencial para o modelo de aulas online. Foi identificado um grande índice de evasão. Sendo assim, as professoras tentaram entrar em contato para auxiliar o retorno dos alunos. Alguns voltaram, mas perderam muitos conteúdos, sendo necessário um replanejamento das aulas. Além disso, para trazer mais dinâmica às aulas, as professoras propuseram aos estudantes que realizassem seminários sobre os temas estudados.
Avaliação e feedback dos estudantes
As avaliações foram feitas por meio de atividades síncronas e assíncronas. Os estudantes realizaram seminários e atividades como Google Forms ou produção de cartilhas, por exemplo. Durante as aulas remotas, o nível de participação dos alunos caiu muito, e as professoras, mais do que nunca, precisaram incentivar a participação deles de forma ativa, atividade que teve alto nível de aprovação da turma.
Além disso, houve uma boa manutenção dos estudantes após a evasão anterior, uma vez que os alunos se sentiram amparados pela forma como as aulas foram construídas.
SAIBA MAIS
O estudo “INOVAÇÃO CURRICULAR NO ENSINO SUPERIOR” propõe uma concepção de inovação curricular para esse nível de ensino a partir da abordagem e do esclarecimento do conceito de inovação. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/curriculum/article/view/6852.
O artigo “A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem” mostra alguns conceitos, desafios e ações envolvidos no processo pela busca de um ensino interdisciplinar. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/swDcnzst9SVpJvpx6tGYmFr/?format=pdf&lang=pt.
O estudo “Linguagem, dialogicidade e docência: o processo de formação em atos” aborda a reflexão da prática pedagógica por meio da linguagem de forma dialógica no processo de formação docente e na construção de uma identidade do professor. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1891/189147556010.pdf.